"Porque se tem direito ao grito, então eu grito."

segunda-feira, 15 de março de 2010

Faísca

Na noite fria senti teu toque quente.
Teus olhos pairaram sobre os meus como se dissessem algo
mas não consegui adivinhar ao certo o que espremiam.
Tua boca me devorava por inteira, de forma ansiosa como se quisesse arrancar algo de mim.
Não o reprimi, deixei que sua vontade me contaminasse também.
Me aquecendo, te puxando violentamente para mais perto,
querendo que acima de nós houvesse se desfeito o teto
para que as estrelas nos iluminassem naquela noite cálida,
enquanto teus lábios limpavam-me a alma.

terça-feira, 2 de março de 2010

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Chegue logo, por favor não demore.
Entre, acomode-se, e não se vá sem a promessa de que irá voltar.
Tenho muito pra te dizer, mas não sei como nem onde o fazer.
Tudo o que eu queria era tê-lo um pouco mais, absorvê-lo somente com um olhar como você faz comigo.
Parece mágica sabia? Eu e você.
Queria poder entender a razão de eu ser teu fruto, o porquê.
Há muito de ti em mim, e isso o preocupa, eu sei, consigo ver através dos seus olhos de criança.
Sei também que se culpa por ter perdido muito da minha infância, e que se frustra ao perceber que quem agora se encontra ausente sou eu.
É que já derramei tantas lágrimas por saudades suas que tento proteger-me cada vez mais desse sentimento, mas sempre chega uma hora em que vejo que tal anseio é inevitável.
Não adianta, a distância só aumenta essa minha fome de consumir tua presença.

És tão belo. Os cabelos que antes eram negros e curtos foram substituídos por cachos grisalhos, mas os olhos verdes profundos e doces continuam os mesmos. As mãos ainda curam quando tocam, teu assobio de chegada ainda me emociona, mas teu olhar agora se encontra triste...
Parece que essa nossa dor dividida nunca acaba.
Tudo que te peço é que por favor pai, volte para casa.

Como se um pedido fosse simples de ser concretizado.
Belo sonho, mas de gosto amargo.